Aconteceu a dois anos. O dia tinha sido estranho, o encontro com os nobres me deixou inquieta desde a hora que os encontrei. A noite ainda sorria, fingindo estar bem. Mas tudo mudou-se de repente, o jantar alegre e humilde fora deixado de lado pelo desespero que as espingardas e os barulhos metálicos das espadas inundaram o ar. Ainda lembro como se fosse hoje. O medo em seus olhos, minha mãe, uma mulher guerreira com um medo crescente no olhar, acredito que esse tenha sido o motivo pelo qual fiquei tão apavorada.

Eu ainda acreditava, que talvez tudo se acalmaria e que ficaríamos bem, mas foi quando eles entraram no quarto. Ainda consigo lembrar de seus olhos a me fitarem em reconhecimento. Como se tivessem me visto antes, mas juro que não, não sabia quem eles eram. Tudo foi inevitável, o plano de me esconder não adiantou.

Assim que sentira a dor da perda entrei em desespero, um calor dentro de mim cresceu e uma raiva inundou meu corpo. Podia sentir aquele poder percorrer o meu corpo, cada centímetro dele, desde os dedos dos pés a cabeça, braços e tronco. Até que os gritos começaram, o fogo saira de mim e destruiu tudo que viu pela frente, nossa casa e tudo que a cercava. Não fiquei apavorada, fiquei com medo, raiva, fiquei só. A escuridão tinha me domado. A claridade do fogo que parecia me proteger não me acalmou. Eu queria morrer também. Mas tinha um propósito maior.